Por Ildásio Tavares*
Na minha infância e adolescência em Salvador, fui rodeado de galegos por todos os lados. O Campo da Pólvora,(onde mourejei na mais famosa turma da Bahia,} era limitado a leste pelo Bar Perez, de Horacio Corujeira e de Perfecto (um gentleman) e a oeste pelo Bar Meia Noite, ambos muito mais que um bar, um mini-supermercado.Havia um armazém ou bar de galego, praticamente, em cada esquina da Bahia, inclusive no cotovelo do Boulevard América, a bodega de Mendes, anos e anos a fio servindo a esta rua, (onde morei por uma eternidade), ao Boulevard Suíço, à Rua Pedro Américo, quase todos residindo em cima do bar, macete perfeito para custos de transporte.Mais tarde, eu freqüentaria o Centro Espanhol, na Av. Sete, (perto da ACBEU), graças à generosidade de uma imensa figura intelectual e humana, o saudoso Manuel Piñeiro Cal, jornalista de A Tarde. Clarindinho, amigo, bateu pra mim que ia a às festas do Centro Espanhol, que Piñeiro Cal o punha pra dentro. Aí me apresentou ao cidadão que passou a me botar ora dentro do clube, amizade que durou até sermos, os dois, docentes do Instituto de Letras. Ele pesquisava línguas antigas, centrado em sânscrito, no final. Eu teria outro príncipe galego na vida, outro Piñeiro, Julio César Alban, alugou o quinto andar do Ed. Bráulio Xavier para o IEC, curso de inglês que fundei.Mais uma vez comprovando a generosidade galega, Julio Cesar aceitou um aluguel barato, mais um percentual sobre o faturamento bruto, percentual este que ele levou anos sem receber. Nem cobrava, Vevero, nem se fala, é bem desse time,Meu médico, há 50 anos, desde formado,, examinando, receitando, operando, num atendimento de altíssimo nível,(é um dos melhores médicos do Brasil) sem me cobrar um tostão.Pudera. Salvador é uma cidade afrogalega. Eles, como os africanos, estão em toda parte. Por isso quando fui procurado internacionalmente pelo grande poeta galego Xosé Lois Garcia (que se interessou por minha obra ,me traduziu e me publicou na Espanha) eu lhe fiz ver que Salvador tinha a maior colônia galega do país, com forte presença em todos os setores econômicos, sociais, e intelectuais. Convidei-o a vir à Bahia e aqui Teresinha Cardoso deu uma festa pra ele, presentes Santiago Campo, José Lois e lideranças galegas que o levaram a um riquíssimo tour , Hospital Espanhol, Centro Espanhol, Caballeros de Santiago, Centro de Estudos Galegos da UFBA, deixando o bardo espanhol empolgado, e,querendo voltar.Voltou para proferir a conferência de abertura das festas de Santiago,promovidas pelos seus Caballeros que fez com muito brilho. Acompanhando-o, tive algumas das emoções mais fortes de minha vida. Santiago, na realidade é uma invenção ibérica que cria, até, um nome fictício, Tiago. De Sanctus Iacobus em latim, se vai até a corruptela de Jacó, Iago. O T vem de santo. Em inglês, Saint James. Em francês Saint Jacques.Será que existe um Santiago Wagner? Na bela festa de encerramento no Clube Rio Tea, me arrepiei todo com uma banda de gaita de foles que eu nem sabia que existia em Salvador.
*Ildásio Tavares nasceu na Fazenda São Carlos, hoje cidade de Gongogi, a 25 de Janeiro de 1940. Em 1962, já depois de um bacharel em Direito, licenciou-se em Letras. Estudou várias línguas e nunca abandonou a vida académica. Publicou artigos, contos, poemas, ensaios e romance, tendo também assinado diversas canções gravadas pelos mais ilustres intérpretes da chamada música popular brasileira.
Fonte: site da Rádio Metrópole